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OS MAIAS
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esta prosa chula em que nos atolamos... Nós não sabemos, não podemos já fallar d’uma obra d’arte ou d’uma obra de historia, d’este bello livro de versos ou d’este bello livro de viagens. Não temos nem phrases nem idéas. Não somos talvez cretinos — mas estamos cretinisados. A obra de litteratura passa muito alto — nós chafurdamos aqui muito em baixo...»

— E aqui tem você, Melchior, o que diz, através do silencio dos jornaes, o côro dos jornalistas!

Melchior sorria, enlevado, com a cabeça deitada para traz, como quem goza uma bella ária. Depois com uma palmada na mesa:

— Caramba, ó Ega, muito bem falla você!... Você nunca pensou em ser deputado? Eu ainda outro dia dizia ao Neves: «O Ega! O Ega é que era, para atirar alli na camara a piadinha á Rochefort. Ardia Troia!»

E immediatamente, emquanto Ega ria, contente, tornando a accender o charuto — Melchior arrebatou a penna:

— Você está em veia! Diga lá, dicte lá... Que hei de eu aqui pôr sobre o livro do Craveiro?

Ega quiz saber o que escrevera já o amigo Melchior. Apenas tres linhas: «Recebemos o novo livro do nosso glorioso poeta Simão Craveiro. O precioso volume, onde scintillam em caprichosos relevos todas as joias d’este prestigioso escriptor, é publicado pelos activos editores...» E aqui o Melchior emperrára. Melchior não gostava d’aquelle