de guarda-pó, com chapeleiras na mão. Os guardas rolavam pachorrentamente as bagagens. D’uma portinhola, onde se exhibia um cavalheiro barrigudo, com um bonet bordado a retroz, pendia todo um cacho d’amigos politicos, respeitosamente e em silencio. A um canto uma senhora soluçava por baixo do véo.
Carlos, vendo um wagon com a papeleta de reservado, imaginou lá a condessa. Um guarda precipitou-se, furioso, como se visse a profanação d’um santuario. Que queria elle, que queria elle d’alli? Não sabia que era o reservado do snr. Carneiro?
— Não sabia.
— Perguntasse, devia saber! ficou o outro a resmungar, ainda tremulo.
Carlos correu ainda outros wagons, onde a gente se apinhava, atabafadamente, na amontoação dos embrulhos; n’um, dois sujeitos, a proposito de lugares, tratavam-se de malcriados; adiante, uma criança esperneava no collo da ama, aos gritos.
— Ó menino, quem diabo andas tu a procurar? exclamou Damaso alegremente, surgindo por traz d’elle, e passando-lhe o braço pela cinta.
— Ninguem... Imaginei que tinha visto o marquez.
Immediatamente Damaso queixou-se d’aquella lúgubre massada de ter d’ir a Penafiel!
— E então agora que eu precisava tanto estar em Lisboa! Que tenho andado com uma sorte para mulheres, menino!... Uma sorte damnada!