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OS MAIAS

— Affirmou-m’o elle, senhor!

Alencar interveio:

— Fallem vocês baixo, que diabo!... Isto é terra de curiosos...

O snr. Guimarães tossiu, chegou a cadeira mais para a mesa. Tinha estado, contou elle, havia semanas fóra de Lisboa por negocios da herança de seu irmão. Não vira o sobrinho, porque só por necessidade se encontrava com esse imbecil. Na vespera, em casa d’um antigo amigo, o Vaz Forte, deitára por acaso os olhos ao Futuro, um jornal republicano, bem escripto, mas frouxo de idéas. E avistára logo na primeira pagina, em typo enorme, sob esta rubrica aliás justa Coisas do high-life, a carta do sobrinho... Imagine o snr. Ega o seu furor! Alli mesmo, em casa do Forte, escrevera ao Damaso pouco mais ou menos n’estes termos: «Li a tua infame declaração. Se ámanhã não fazes outra, em todos os jornaes, dizendo que não tinhas intenção de me incluir entre os bebedos da tua familia, vou ahi e quebro-te os ossos um por um. Treme!» Assim lhe escrevera. E sabia o snr. João da Ega qual fôra a resposta do snr. Damaso?

— Tenho-a aqui, é um documento humano, como diz o amigo Zola! Aqui está... Grande papel, monogramma d’ouro, corôa de conde. Aquelle asno! Quer v. exc.ª que eu leia?

A um gesto risonho do Ega, elle mesmo leu, lentamente, e sublinhando: