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OS MAIAS

— Sim, talvez duas semanas, umas pequeninas ferias.

— Tres dias, o mais, replicou ella n’uma voz fria e afiada como uma navalha.

O conde não respondeu, livido.

Todas as portinholas agora estavam fechadas, um silencio cahira sobre a plataforma. O apito da machina varou o ar; e o comprido trem, n’um ruido secco de freios retesados, começou a rolar, com gente ás portinholas, que ainda se debruçava, estendendo a mão para um ultimo aperto. Aqui e além esvoaçava um lenço branco. O olhar da condessa para o lado de Carlos teve a doçura de um beijo, o Damaso gritou saudades para o Ramalhete. O compartimento do correio resvalou, alumiado; e com outro dilacerante silvo o comboio mergulhou na noite...

Carlos, só, dentro do coupé, voltando á Baixa, sentia uma alegria triumphante com aquella partida da condessa, e a inesperada jornada do Damaso. Era como uma dispersão providencial de todos os importunos: e assim se fazia em torno da rua de S. Francisco uma solidão — com todos os seus encantos, e todas as suas cumplicidades.

No caes do Sodré deixou a carruagem, subiu a pé pelo Ferregial, veio passar diante das janellas na rua de S. Francisco. Só pôde vêr uma vaga tira de claridade entre as portadas meio cerradas. Mas isto bastava-lhe. Podia agora imaginar com precisão o serão calmo que ella estava passando