Página:Os Maias - Volume 2.pdf/382

Wikisource, a biblioteca livre
372
OS MAIAS

Isabel, as tipoias em que ella deixava o seu cheiro de verbena — fossem coisas lidas por ambos n’um livro e por ambos esquecidas. Atraz, o marido seguia, erguendo alto a cabeça e as lunetas, como representante do Poder n’aquella festa da Intelligencia.

— Pois senhores, disse o Ega afastando-se com Carlos, a mulherzinha tem topete!

— Que diabo queres tu? Atravessou a sua hora de tolice e de paixão, e agora continúa tranquillamente na rotina da vida.

— E na rotina da vida, concluiu Ega, encontra-se a cada passo comtigo, que a viste em camisa!... Bonito mundo!

Mas o Alencar appareceu no alto da escada, voltando do botequim e da genebra, com um brilho maior no olho cavo, de paletot no braço, já preparado para gorgear. E o marquez juntou-se a elles, abafado no cache-nez de sêda branca, mais rouco, queixando-se de que a cada minuto a garganta se lhe punha peor... Aquella canalha d’aquella garganta ainda lhe vinha a pregar uma!...

Depois, muito sério, considerando o Alencar:

— Ouve lá, isso que tu vaes recitar, a Democracia, é politica ou sentimento? Se é politica, raspo-me. Mas se é sentimento, e a humanidade, e o santo operario, e a fraternidade, então fico, que d’isso gósto e até talvez me faça bem.

Os outros affirmaram que era sentimento. O poeta tirou o chapéo, passou os dedos pelos anneis fôfos da grenha inspirada: