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OS MAIAS
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A Republica, feita só de pureza e de fé, reza nos campos; a lua cheia é hostia; os rouxinoes entoam o tantum ergo nos ramos dos loureiraes. E tudo prospéra, tudo refulge — ao mundo do Conflicto substitue-se o mundo do Amor...

Á espada succede o arado,
A Justiça ri da Morte,
A escóla está livre e forte,
E a Bastilha derrocada.
Róla a tiára no lodo,
Brota o lirio da Igualdade,
E uma nova Humanidade
Planta a cruz na barricada!

Uma rajada farta e franca de bravos fez oscillar as chammas do gaz! Era a paixão meridional do verso, da sonoridade, do Liberalismo romantico, da imagem que esfuzia no ar com um brilho crepitante de foguete, conquistando emfim tudo, pondo uma palpitação em cada peito, levando chefes de repartição a berrarem, estirados por cima das damas, no enthusiasmo d’aquella republica onde havia rouxinoes! E quando Alencar, alçando os braços ao tecto, com modulações de preghiera na voz roufenha, chamou para a terra essa pomba da Democracia, que erguera o vôo do Calvario, e vinha com largos sulcos de luz — foi um enternecimento banhando as almas, um fundo arrepio d’extasi. As senhoras amolleciam nas cadeiras, com a face meia voltada ao céo. No salão abrazado perpassavam frescuras de capella. As rimas fundiam-se n’um murmurio de ladainha, como evoladas