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OS MAIAS
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Mas vi-o descer, queria-lhe dar duas palavras, e como me vou embora ámanhã...

— Perfeitamente... Ó Cruges, vai andando, já te apanho!

O maestro estacionou á esquina do Chiado. O snr. Guimarães pedia de novo desculpa. De resto eram duas curtas palavras...

— V. exc.ª, segundo me disseram, é o grande amigo do snr. Carlos da Maia... São como irmãos...

— Sim, muito amigos...

A rua estava deserta, com alguns garotos apenas á porta alumiada da Trindade. Na noite escura a alta fachada do Alliança lançava sobre elles uma sombra maior. Todavia o snr. Guimarães baixou a voz cautelosa:

— Aqui está o que é... V. exc.ª sabe, ou talvez não saiba, que eu fui em Paris intimo da mãi do snr. Carlos da Maia... V. exc.ª tem pressa, e não vem agora a proposito essa historia. Basta dizer que aqui ha annos ella entregou-me, para eu guardar, um cofre que, segundo dizia, continha papeis importantes... Depois naturalmente, ambos tivemos muitas outras coisas em que pensar, os annos correram, ella morreu. N’uma palavra, porque v. exc.ª está com pressa: eu conservo ainda em meu poder esse deposito, e trouxe-o por acaso quando vim agora a Portugal por negocios da herança de meu irmão... Ora hoje justamente, alli