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OS MAIAS

O escrevente, um rapaz macilento que torcia nervosamente sobre o collete uma corrente de coral, balbuciou que o snr. Villaça não devia tardar, se não tivesse atravessado, no vapor das nove, para o Alfeite... Ega desceu desesperado.

— Bem, gritou ao cocheiro, vai ao café Tavares...

No Tavares, ainda solitario áquella hora, um moço areava o sobrado. E emquanto esperava o almoço Ega percorreu os jornaes. Todos fallavam do sarau, em linhas curtas, promettendo detalhes criticos, mais tarde, sobre esse brilhante torneio artistico. Só a Gazeta Illustrada se alargava, com phrases sérias, tratando o Rufino de grandioso, o Cruges de esperançoso: no Alencar a Gazeta separava o philosopho do poeta; ao philosopho a Gazeta lembrava com respeito que nem todas as aspirações ideaes da philosophia, bellas como miragens de deserto, são realisaveis na pratica social; mas ao poeta, ao creador de tão formosas imagens, de tão inspiradas estancias, a Gazeta desafogadamente bradava — «bravo! bravo!» Havia ainda outras abominaveis sandices. Depois seguia-se a lista das pessoas que a Gazeta se recordava de ter visto, entre as quaes «destacava com o seu monoculo o fino perfil de João da Ega, sempre brilhante de verve.» Ega sorriu, cofiando o bigode. Justamente o bife chegava, fumegante, chiando na frigideirinha de barro. Ega pousou a Gazeta ao lado, dizendo comsigo: «Não é nada mal feito, este jornal!»