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OS MAIAS
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Casar com ella! Villaça erguia as mãos, não queria acreditar. O quê! o snr. Carlos da Maia dar a sua mão, o seu nome, a essa creatura amigada com um brazileiro!?... Santissimo nome de Deus! E através do assombro recrescia-lhe a desconfiança, via ahi um novo feito do Olho Vivo.

— Não senhor, Villaça, não senhor! insistiu Ega, já impaciente. Se a questão é de documentos e se ella os tinha, verdadeiros ou falsificados, apresentava-os logo, não ia primeiro dormir com o irmão!

Villaça baixou lentamente os olhos para o sobrado. Um terror invadia-o diante d’aquella grande casa, que era o seu orgulho, partida em metade, empolgada por uma aventureira... Mas como o Ega, muito nervoso, lembrava que de resto a questão não era de documentos, nem de legalidade, nem de fortuna — o procurador teve outro grito, com a face de novo alumiada:

— Espere, homem, ha outra coisa!... Talvez ella seja filha do italiano!

— E então?... Vem a dar na mesma.

— Alto lá! berrou o procurador, batendo com o punho na mesa. Não tem direito á legitima do pai, e não apanha um real d’esta casa!... Irra, ahi é que está o ponto!

Ega teve um gesto desolado. Não, nem isso, desgraçadamente! Esta era a filha do Pedro da Maia. O Guimarães conhecia-a de a trazer ao collo, de lhe dar bonecas quando ella tinha sete annos, e quando apenas havia quatro ou cinco annos que o