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OS MAIAS

a larga bacia de prata e o jarro d’agua perfumada.

Ao fim do café, servido no bilhar, Steinbroken e Craft começaram uma partida «ás cincoenta» e a quinze tostões para interessar. Affonso e D. Diogo tinham recolhido ao escriptorio. Ega enterrára-se no fundo d’uma poltrona, com o Figaro. Mas bem depressa deixou escorregar a folha no tapete, cerrou os olhos. Então Carlos, que passeava pensativamente fumando, olhou um momento o Ega adormecido, e sumiu-se por traz do reposteiro.

Ia á rua de S. Francisco.

Mas não se apressava, a pé pelo Aterro, abafado n’um paletot de pelles, acabando o charuto. A noite clareára, com um crescente de lua entre farrapos de nuvens brancas, que fugiam sob um norte fino.

Fôra n’essa tarde, só no seu quarto, que Carlos decidira ir fallar a Maria Eduarda — por um motivo supremo de dignidade e de razão, que elle descobrira e que repetia a si mesmo incessantemente para se justificar. Nem ella nem elle eram duas crianças frouxas, necessitando que a crise mais temerosa da sua vida lhes fosse resolvida e arranjada pelo Ega ou pelo Villaça: mas duas pessoas fortes, com o animo bastante resoluto, e o juizo bastante seguro,