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OS MAIAS
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para lhe lembrar «que era a festa do Charlie». E foi já de paletot, de claque na mão, que appareceu emfim na salinha Luiz xv onde Cruges tocava Chopin, e Carlos se installára n’uma partida de bezigue com o Craft. Vinha saber se os amigos queriam alguma coisa para os nobres condes de Gouvarinho...

— Diverte-te!

— Sê faiscante!

— Eu lá appareço para a ceia! prometteu Taveira, estirado n’uma poltrona com o Figaro.

Eram duas horas da manhã quando Ega recolheu da soirée — onde por fim se divertira n’uma desesperada flirtação com a baroneza d’Alvim, que á ceia, depois do champagne, vencida por tanta graça e tanta audacia, lhe tinha dado duas rosas. Diante do quarto de Carlos, accendendo a vela, Ega hesitou, mordido por uma curiosidade... Estaria lá? Mas teve vergonha d’aquella espionagem, e subiu, bem decidido como na vespera a fugir para Celorico. No seu quarto, diante do espelho, pôz cuidadosamente n’um copo as rosas da Alvim. E começava a despir-se, quando ouviu passos no negro corredor, passos muito lentos, muito pesados, que se adiantavam, findaram á sua porta em suspensão e silencio. Assustado, gritou: «Que é lá?» A porta rangeu. E appareceu Afonso da Maia, pallido, com um jaquetão sobre a camisa de dormir, e um castiçal onde a vela ia morrendo. Não entrou. N’uma voz enrouquecida, que tremia: