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OS MAIAS
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Carlos murmurou, devagar, como para si mesmo, com os olhos postos no chão:

— Não! É estranho, não me faço mais desgraçado! Aceito isto como um castigo... Quero que seja um castigo... E sinto-me só muito pequeno, muito humilde diante de quem assim me castiga. Esta manhã pensava em matar-me. E agora não! É o meu castigo viver, esmagado para sempre... O que me custa é que elle não me tivesse dito adeus!!

De novo as lagrimas lhe correram, mas lentas, mansamente, sem desespero. Ega levou-o para o quarto, como uma criança. E assim o deixou a um canto do sofá, com o lenço sobre a face, n’um chôro contínuo e quieto, que lhe ia lavando, alliviando o coração de todas as angustias confusas e sem nome que n’esses dias derradeiros o traziam suffocado.

Ao meio dia, em cima, Ega acabava de vestir-se quando Villaça lhe rompeu pelo quarto de braços abertos.

— Então como foi isto, como foi isto?

Baptista mandára-o chamar pelo trintanario, mas o rapazola pouco lhe soubera contar. Agora em baixo o pobre Carlos abraçára-o, coitadinho, lavado em lagrimas, sem poder dizer nada, pedindo-lhe só para se entender em tudo com o Ega... E alli estava.

— Mas como foi, como foi, assim de repente?...

Ega contou, brevemente, como tinham encontrado