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OS MAIAS
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o portão do Ramalhete. O ultimo a chegar foi o Sequeira, que passára o dia na quinta, e se abraçou em Carlos, depois no Craft ao acaso, entontecido, com uma lagrima nos olhos injectados, balbuciando: — «Foi-se o companheiro de muitos annos. Tambem não tardo!...»

E a noite de vigilia e pezames começou, lenta e silenciosa. As doze chammas das velas ardiam, muito altas, n’uma solemnidade funeraria. Os amigos trocavam algum murmurio abafado, com as cadeiras chegadas. Pouco a pouco, o calor, o aroma do incenso, a exhalação das flôres forçaram o Baptista a abrir uma das janellas do terraço. O céo estava cheio d’estrellas. Um vento fino susurrava nas ramagens do jardim.

Já tarde Sequeira, que não se movera d’uma poltrona, com os braços cruzados, teve uma tontura. Ega levou-o á sala de jantar, a reconfortal-o com um calice de cognac. Havia lá uma ceia fria, com vinhos e dôces. E Craft veio tambem — com o Taveira, que soubera a desgraça na redacção da Tarde, e correra quasi sem jantar. Tomando um pouco de Bordeus, uma sandwich, Sequeira reanimava-se, lembrava o passado, os tempos brilhantes, quando Affonso e elle eram novos. Mas emmudeceu vendo apparecer Carlos, pallido e vagaroso como um somnambulo, que balbuciou: «Tomem alguma coisa, sim, tomem alguma coisa...»

Mexeu n’um prato, deu uma volta á mesa, sahiu. Assim vagamente foi até á ante-camara, onde