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OS MAIAS

— Atreve, que diabo... Porque não?

— Então vem!

Carlos puzera n’isto toda a sua alma. E ao abraçar o Ega corriam-lhe na face duas grandes lagrimas.

Então Ega reflectiu. Antes de ir a Santa Olavia precisava fazer uma romagem á quinta de Celorico. O Oriente era caro. Urgia pois arrancar á mãi algumas letras de credito... E como Carlos pretendia ter «bastante para o luxo d’ambos», Ega atalhou muito sério:

— Não, não! Minha mãi tambem é rica. Uma viagem á America e ao Japão são fórmas de educação. E a mamã tem o dever de completar a minha educação. O que acceito, sim, é uma das tuas malas de couro...

Quando n’essa noite, acompanhados pelo Villaça, Carlos e Ega chegaram á estação de Santa Apolonia, o comboio ia partir. Carlos mal teve tempo de saltar para o seu compartimento reservado — emquanto o Baptista, abraçado ás mantas de viagem, empurrado pelo guarda, se içava desesperadamente para outra carruagem, entre os protestos dos sujeitos que a atulhavam. O trem immediatamente rolou. Carlos debruçou-se á portinhola, gritando ao Ega: — «Manda um telegramma ámanhã a dizer o que houve!»

Recolhendo ao Ramalhete com o Villaça, que ia n’essa noite colligir e sellar os papeis de Affonso da Maia, Ega fallou logo nas quinhentas libras