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OS MAIAS

gravata preta, movendo-se em pontas de pés, abriu o reposteiro da sala. E Ega pousára apenas sobre o sofá a velha caixa de charutos da Monforte — quando Maria Eduarda entrou, pallida, toda coberta de negro, estendendo-lhe as mãos ambas.

— Então Carlos?

Ega balbuciou:

— Como v. exc.ª póde imaginar, n’um momento d’estes... Foi horrivel, assim de surpreza...

Uma lagrima tremeu nos olhos pisados de Maria. Ella não conhecia o snr. Affonso da Maia, nem sequer o vira nunca. Mas soffria realmente por sentir bem o soffrimento de Carlos... O que aquelle rapaz estremecia o avô!

— Foi de repente, não?

Ega retardou-se em longos detalhes. Agradeceu a corôa que ella mandára. Contou os gemidos, a afflicção do pobre Bonifacio...

— E Carlos? repetiu ella.

— Carlos foi para Santa Olavia, minha senhora.

Ella apertou as mãos, n’uma surpreza que a acabrunhava. Para Santa Olavia! E sem um bilhete, sem uma palavra?... Um terror empallidecia-a mais, diante d’aquella partida tão arrebatada, quasi parecida com um abandono. Terminou por murmurar, com um ar de resignação e de confiança que não sentia:

— Sim, com effeito, n’este momento não se pensa nos outros...

Duas lagrimas corriam-lhe devagar pela face.