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OS MAIAS

— Vai lá p’ra dentro! deixa-me!

Assustada, a pequena não se moveu mais, com os lindos olhos de repente cheios de agua. O reposteiro cahiu, do fundo do corredor veio um grande chôro magoado.

Então Ega teve só um desejo, o desesperado desejo de findar.

— V. exc.ª conhece a letra de sua mãi, não é verdade?... Pois bem! Eu trago aqui uma declaração d’ella a seu respeito... Esse Guimarães é que tinha este documento, com outros papeis que ella lhe entregou em 71, nas vesperas da guerra... Elle conservou-os até agora, e queria restituir-lh’os, mas não sabia onde v. exc.ª vivia. Viu-a ha dias n’uma carruagem, commigo, e com o Carlos... Foi ao pé do Aterro, v. exc.ª deve lembrar-se, defronte do alfaiate, quando vinhamos da Toca... Pois bem! o Guimarães veio immediatamente ao procurador dos Maias, deu-lhe esses papeis, para que os entregasse a v. exc.ª... E nas primeiras palavras que disse, imagine o assombro de todos, quando se entreviu que v. exc.ª era parenta de Carlos, e parenta muito chegada...

Atabalhoára esta historia de pé, quasi d’um fôlego, com bruscos gestos de nervoso. Ella mal comprehendia, livida, n’um indefinido terror. Só pôde murmurar muito debilmente: «Mas...» E de novo emmudeceu, assombrada, devorando os movimentos do Ega que, debruçado sobre o sofá, desembrulhava a tremer a caixa de charutos da Monforte.