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OS MAIAS
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Por fim voltou para ella com um papel na mão, atropellando as palavras n’uma debandada:

— A mãi de v. exc.ª nunca lh’o disse... Havia um motivo muito grave... Ella tinha fugido de Lisboa, fugido ao marido... Digo isto assim brutalmente, perdôe-me v. exc.ª, mas não é o momento de attenuar as coisas... Aqui está! V. exc.^a conhece a letra de sua mãi. É d’ella esta letra, não é verdade?

— É! exclamou Maria, indo arrebatar o papel.

— Perdão! gritou Ega, retirando-lh’o violentamente. Eu sou um estranho! E v. exc.ª não se póde inteirar de tudo isto emquanto eu não sahir d’aqui.

Fôra uma inspiração providencial, que o salvava de testemunhar o choque terrivel, o horror das coisas que ella ia saber. E insistiu. Deixava-lhe alli todos os papeis que eram de sua mãi. Ella lería, quando elle sahisse, comprehenderia a realidade atroz... Depois, tirando do bolso os dois pesados rôlos de libras, o sobrescripto que continha a letra sobre Paris, pôz tudo em cima da mesa, com a declaração da Monforte.

— Agora só mais duas palavras. Carlos pensa que o que v. exc.ª deve fazer já é partir para Paris. V. exc.ª tem direito, como sua filha ha de ter, a uma parte da fortuna d’esta familia dos Maias, que agora é a sua... N’este masso que lhe deixo está uma letra sobre Paris para as despezas immediatas... O procurador de Carlos tomou já um wagon-salão.