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OS MAIAS

— Acabou-se! Vae sem nome. Imagina-se que foi esquecimento...

Levou assim a carta, dentro do sobrescripto em branco. Melanie guardou-a no regalo. E, debruçada á portinhola, entristecendo a voz, desejou saber, da parte de Madame, onde estava enterrado o avô do senhor...

Ega ficou com o monoculo sobre ella, sem sentir bem se aquella curiosidade de Maria era indiscreta ou tocante. Por fim deu uma indicação. Era nos Prazeres, á direita, ao fundo, onde havia um anjo com uma tocha. O melhor seria perguntar ao guarda pelo jazigo dos snrs. Villaças.

— Merci, monsieur, bien le bonsoir.

— Bonsoir, Melanie!

No dia seguinte, na estação de Santa Apolonia, Ega, que viera cedo com o Villaça, acabava de despachar a sua bagagem para o Douro, quando avistou Maria que entrava trazendo Rosa pela mão. Vinha toda envolta n’uma grande pelliça escura, com um véo dobrado, espesso como uma mascara: e a mesma gaze de luto escondia o rostosinho da pequena, fazendo-lhe um laço sobre a touca. Miss Sarah, n’uma ulster clara de quadrados, sobraçava um masso de livros. Atraz o Domingos, com os olhos muito vermelhos, segurava um rôlo de mantas, ao lado de Melanie carregada de preto que levava Niniche ao collo. Ega correu para Maria Eduarda, conduziu-a pelo braço, em silencio, ao wagon-salão que tinha todas as cortinas cerradas.