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OS MAIAS
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Junto do estribo ella tirou devagar a luva. E muda, estendeu-lhe a mão.

— Ainda nos vemos no Entroncamento, murmurou Ega. Eu sigo tambem para o Norte.

Alguns sujeitos pararam, com curiosidade, ao vêr sumir-se n’aquella carruagem de luxo, fechada, mysteriosa, uma senhora que parecia tão bella, d’ar tão triste, coberta de negro. E apenas Ega fechou a portinhola, o Neves, o da Tarde e do Tribunal de Contas, rompeu d’entre um rancho, arrebatou-lhe o braço com sofreguidão:

— Quem é?

Ega arrastou-o pela plataforma, para lhe deixar cahir no ouvido, já muito adiante, tragicamente:

— Cleopatra!

O politico, furioso, ficou rosnando: «Que asno!...» Ega abalára. Junto do seu compartimento Villaça esperava, ainda deslumbrado com aquella figura de Maria Eduarda, tão melancolica e nobre. Nunca a vira antes. E parecia-lhe uma rainha de romance.

— Acredite o amigo, fez-me impressão! Caramba, bella mulher! Dá-nos uma bolada, mas é uma soberba praça!

O comboio partiu. O Domingos ficava choramingando com um lenço de côres sobre a face. E o Neves, o conselheiro do Tribunal de Contas, ainda furioso, vendo o Ega á portinhola, atirou-lhe de lado, disfarçadamente, um gesto obsceno.

No Entroncamento Ega veio bater nos vidros