do salão que se conservava fechado e mudo. Foi Maria que abriu. Rosa dormia. Miss Sarah lia a um canto, com a cabeça n’uma almofada. E Niniche assustada ladrou.
— Quer tomar alguma coisa, minha senhora?
— Não, obrigada...
Ficaram calados, emquanto Ega com o pé no estribo tirava lentamente a charuteira. Na estação mal alumiada passavam saloios, devagar, abafados em mantas. Um guarda rolava uma carreta de fardos. Adiante a machina resfolegava na sombra. E dois sujeitos rondavam em frente do salão, com olhares curiosos e já languidos para aquella magnifica mulher, tão grave e sombria, envolta na sua pelliça negra.
— Vai para o Porto? murmurou ella.
— Para Santa Olavia...
— Ah!
Então Ega balbuciou com os beiços a tremer:
— Adeus!
Ella apertou-lhe a mão com muita força, em silencio, suffocada.
Ega atravessou, devagar, por entre soldados de capote enrolado a tiracollo que corriam a beber á cantina. Á porta do buffete voltou-se ainda, ergueu o chapéo. Ella, de pé, moveu de leve o braço n’um lento adeus. E foi assim que elle pela derradeira vez na vida viu Maria Eduarda, grande, muda, toda negra na claridade, á portinhola d’aquelle wagon que para sempre a levava.