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OS MAIAS

puxando a garrafa do cognac. Isto ainda não é tão mau como se diz... Olha tu para isso, para esse céo, para esse rio, homem!

— Com effeito é encantador!

Todos tres, durante um momento, pasmaram para a incomparavel belleza do rio, vasto, lustroso, sereno, tão azul como o céo, esplendidamente coberto de sol.

— E versos? exclamou de repente Carlos, voltando-se para o poeta. Abandonaste a lingua divina?

Alencar fez um gesto de desalento. Quem entendia já a lingua divina? O novo Portugal só comprehendia a lingua da libra, da «massa». Agora, filho, tudo eram syndicatos!

— Mas ainda ás vezes me passa uma coisa cá por dentro, o velho homem estremece... Tu não viste nos jornaes?... Está claro, não lês cá esses trapos que por ahi chamam gazetas... Pois veio ahi uma coisita, dedicada aqui ao João. Ora eu t’a digo se me lembrar...

Correu a mão aberta pela face escaveirada, lançou a estrophe n’um tom de lamento:

Luz d’esperança, luz d’amor,
Que vento vos desfolhou?
Que a alma que vos seguia
Nunca mais vos encontrou!

Carlos murmurou: «Lindo!» Ega murmurou: