«Muito fino!» E o poeta, aquecendo, já commovido, esboçou um movimento d’aza que foge:
Minh’alma em tempos d’outr’ora,
Quando nascia o luar,
Como um rouxinol que acorda
Punha-se logo a cantar.
Pensamentos eram flôres,
Que a aragem lenta de Maio...
— O snr. Cruges! annunciou o criado, entreabrindo a porta.
Carlos ergueu os braços. E o maestro, todo abotoado n’um paletot claro, abandonou-se á effusão de Carlos, balbuciando:
— Eu só hontem é que soube. Queria-te ir esperar, mas não me acordaram...
— Então continúa o mesmo desleixo? exclamava Carlos, alegremente. Nunca te acordam?
Cruges encolhia os hombros, muito vermelho, acanhado, depois d’aquella longa separação. E foi Carlos que o obrigou a sentar-se ao lado, enternecido com o seu velho maestro, sempre esguio, com o nariz mais agudo, a grenha cahindo mais crespa sobre a gola do paletot.
— E deixa-me dar-te os parabens! Lá soube pelos jornaes, o triumpho, a linda opera-comica, a Flôr de Sevilha...
— De Granada! acudiu o maestro. Sim, uma coisita para ahi, não desgostaram.