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OS MAIAS
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— Ainda ha de ser deputado, acrescentou Ega. E, da fórma que as coisas vão, ainda ha de ser ministro... E isto está-se fazendo tarde, Carlinhos. Vamos nós tomar esta tipoia e abalar para o Ramalhete?

Eram quatro horas, o sol curto de inverno tinha já um tom pallido.

Tomaram a tipoia. No Rocio, Alencar que passava, que os viu — parou, sacudiu ardentemente a mão no ar. E então Carlos exclamou, com uma surpreza que já o assaltára essa manhã no Braganza:

— Ouve cá, Ega! Tu agora pareces intimo do Alencar! Que transformação foi essa?

Ega confessou que realmente agora apreciava immensamente o Alencar. Em primeiro logar no meio d’esta Lisboa toda postiça, Alencar permanecia o unico portuguez genuino. Depois, através da contagiosa intrujice, conservava uma honestidade resistente. Além d’isso havia n’elle lealdade, bondade, generosidade. O seu comportamento com a sobrinhita era tocante. Tinha mais cortezia, melhores maneiras que os novos. Um bocado de piteirice não lhe ia mal ao seu feitio lyrico. E por fim, no estado a que descambára a litteratura, a versalhada do Alencar tomava relevo pela correcção, pela simplicidade, por um resto de sincera emoção. Em resumo, um bardo infinitamente estimavel.

— E aqui tens tu, Carlinhos, a que nós chegamos! Não ha nada com efeito que caracterise melhor a pavorosa decadencia de Portugal, nos ultimos