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OS MAIAS

Damaso olhou-o, esgazeado:

— Ora essa!... Mas podia ter dito bem!

— Não; é uma pessoa de bom senso, não se atreveria tambem.

E erguendo-se vivamente, Carlos abraçou Damaso pela cinta, acariciando-o, perguntando-lhe pela herança do titi, e em que amores, em que viagens, em que cavallos de luxo ia gastar os milhões...

Damaso, sob aquellas festas alegres, permanecia frio, amuado, olhando-o de revez.

— Olha que tu, disse elle, parece-me que me vaes sahindo tambem um traste... Não ha a gente fiar-se em ninguem!

— Tudo na terra, meu Damaso, é apparencia e engano!

Seguiram d’alli á sala do bilhar fazer «a partida de reconciliação». E pouco a pouco, sob a influencia que exercia sempre sobre elle o Ramalhete, Damaso foi socegando, risonho já, gozando de novo a sua intimidade com Carlos no meio d’aquelle luxo sério, e tratando-o outra vez por «menino». Perguntou pelo snr. Affonso da Maia. Quiz saber se o bello marquez tinha apparecido. E o Ega, o grande Ega?...

— Recebi carta d’elle, disse Carlos. Vem ahi, temol-o talvez cá no sabbado.

Foi um espanto para o Damaso.

— Homem! essa é curiosa! E eu encontrei os