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OS MAIAS
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nossa posição de paiz para que não temos elementos, passemos a ser uma fertil e estupida provincia hespanhola, e plantemos mais legumes!

O velho escutava com melancolia estas palavras do neto, em que sentia como uma decomposição da vontade, e que lhe pareciam ser apenas a glorificação da sua inercia. Terminou por dizer:

— Pois então façam vocês essa revolução. Mas pelo amor de Deus, façam alguma coisa!

— O Carlos já não faz pouco, exclamou Ega, rindo. Passeia a sua pessoa, a sua toilette e o seu phaeton, e por esse facto educa o gosto!

O relogio Luiz XV interrompeu-os — lembrando ao Ega que devia ainda, antes de jantar, ir buscar a sua mala ao Hotel Hespanhol. Depois no corredor confessou a Carlos que, antes d’ir ao Hespanhol, queria correr ao Fillon, ao photographo, vêr se podia tirar um bonito retrato.

— Um retrato?

— Uma surpreza que tem d’ir d’aqui a tres dias para Celorico, para o dia d’annos d’uma creaturinha que me adoçou o exilio.

— Oh Ega!

— É horroroso, mas então? É a filha do padre Corrêa, filha conhecida como tal; além d’isso casada com um proprietario rico da visinhança, reaccionario odioso... De modo que, bem vês, esta dupla peça a pregar á Religião e á Propriedade...

— Ah! n’esse caso...