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OS MAIAS
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De repente o Ega, que fumava em silencio, abotoado no seu paletot de verão, bateu no joelho de Carlos, e entre risonho e sério:

— Dize-me uma coisa, se não é um segredo sacrosanto... Quem é essa brazileira com quem tu agora passas todas as tuas manhãs?

Carlos ficou um instante aturdido, com os olhos no Ega.

— Quem te fallou n’isso?

— Foi o Damaso que m’o disse. Isto é, o Damaso que m’o rugiu... Porque foi de dentes rilhados, a dar murros surdos n’um sofá do Gremio, e com uma côr d’apoplexia, que elle me contou tudo...

— Tudo o quê?

— Tudo. Que te apresentára a uma brazileira a quem se atirava, e que tu, aproveitando a sua ausencia, te metteras lá, não sahias de lá...

— Tudo isso é mentira! exclamou o outro, já impaciente.

E Ega, sempre risonho:

— Então «que é a verdade», como perguntava o velho Pilatus ao chamado Jesus Christo?

— É que ha uma senhora a quem o Damaso suppunha ter inspirado uma paixão, como suppõe sempre, e que, tendo-lhe adoecido a governante ingleza com uma bronchite, me mandou chamar para eu a tratar. Ainda não está melhor, eu vou vêl-a todos os dias. E Madame Gomes, que é o nome da senhora, que nem brazileira é, não poden-