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OS MAIAS

veio dizer Carlos á senhora baroneza, sentando-se junto d’ella. V. exc.ª é sempre a primeira...

— Como quer o senhor que se vá para Cintra com um tempo d’estes?

— Com effeito, está infernal...

— E que conta de novo? perguntou ella, abrindo lentamente o seu grande leque preto.

— Creio que não ha nada de novo em Lisboa, minha senhora, desde a morte do snr. D. João VI.

— Agora ha o seu amigo Ega, por exemplo.

— É verdade, ha o Ega... Como o acha v. exc.ª, senhora baroneza?

Ella nem baixou a voz para dizer:

— Olhe, eu como o achei sempre um grande presumido e não gosto d’elle, não posso dizer nada...

— Oh senhora baroneza, que falta de caridade!

O escudeiro annunciára o jantar. A condessa tomou o braço de Carlos, — e, ao atravessar o salão, entre o frouxo murmurio de vozes e o rumor lento das caudas de sêda, pôde dizer-lhe asperamente:

— Esperei meia hora; mas comprehendi logo que estaria entretido com a brazileira...

Na sala de jantar, um pouco sombria, forrada de papel côr de vinho, escurecida ainda por dois antigos paineis de paizagem tristonha, a mesa oval, cercada de cadeiras de carvalho lavrado, resaltava alva e fresca, com um esplendido cesto de rosas entre duas serpentinas douradas. Carlos ficou