De repente ouviu o seu nome. Do fim da mesa uma voz dizia, pachorrenta e cantada:
— O snr. Maia é que deve saber... O snr. Maia já lá esteve.
Carlos pousou vivamente o copo. Era a senhora d’escarlate que lhe fallava, sorrindo, mostrando uns bonitos dentes sob o buço forte de quarentona pallida. Ninguem lh’a apresentára, elle não sabia quem era. Sorriu tambem, perguntou:
— Onde, minha senhora?
— Na Russia.
— Na Russia?... Não, minha senhora, nunca estive na Russia.
Ella pareceu um pouco desapontada.
— Ah, é que me tinham dito... Não sei já quem me disse, mas era pessoa que sabia...
O conde ao fundo explicava-lhe amavelmente que o amigo Maia estivera apenas na Hollanda.
— Paiz de grande prosperidade, a Hollanda!... Em nada inferior ao nosso... Já conheci mesmo um hollandez que era excessivamente instruido...
A condessa baixára os olhos, partindo vagamente um bocadinho de pão, mais séria de repente, mais secca, como se a voz de Carlos, erguendo-se tão tranquilla ao seu lado, tivesse avivado os seus despeitos. Elle, então, depois de provar devagar o seu Sauterne, voltou-se para ella, muito naturalmente e risonho:
— Veja a senhora condessa! Eu nem tive mesmo idéa d’ir á Russia. Ha assim uma infinidade