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OS MAIAS
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ninguem agora lograva ter os seus sapatos bem envernizados, o seu arroz bem cozido, a sua escada bem lavada, desde que não tinha criados pretos em quem fosse licito dar vergastadas... Só houvera duas civilisações em que o homem conseguira viver com razoavel commodidade: a civilisação romana, e a civilisação especial dos plantadores da Nova Orleans. Porque? porque n’uma e n’outra existira a escravatura absoluta, a sério, com o direito de morte!...

Durante um momento o snr. Sousa Netto ficou como desorganisado. Depois passou o guardanapo sobre os beiços, preparou-se, encarou o Ega:

— Então v. exc.ª n’essa idade, com a sua intelligencia, não acredita no Progresso?

— Eu não senhor.

O conde interveio, affavel e risonho:

— O nosso Ega quer fazer simplesmente um paradoxo. E tem razão, tem realmente razão, porque os faz brilhantes...

Estava-se servindo Jambon aux épinards. Durante um momento fallou-se de paradoxos. Segundo o conde, quem os fazia tambem brilhantes e difficeis de sustentar, excessivamente difficeis, era o Barros, o ministro do reino...

— Talento robusto, murmurou respeitosamente Sousa Netto.

— Sim, pujante, disse o conde.

Mas elle agora não fallava tanto do talento do Barros como parlamentar, como homem d’estado.