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OS MAIAS
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Sim, era a Vicenta que a penteava. Ia-se fazendo velha, coitada... Mas sempre caturra. Agora andava com a mania de aprender francez. Já sabia verbos. Era de morrer, a Vicenta a dizer j’aime, tu aimes...

— E a senhora baroneza, acudiu o Ega, começou por lhe mandar ensinar os verbos mais necessarios.

Está claro, dizia a baroneza, que aquelle era o mais necessario. Mas na idade da Vicenta já de pouco lhe poderia servir!

— Ah! gritou de repente o conde, deixando quasi cahir o talher. Agora me lembro!

Tinha-se lembrado emfim do soberbo paradoxo do Barros. Dizia o Barros que os cães, quanto mais ensinados... Pois, não, não era isto!

— Esta minha desgraçada memoria!... E era sobre cães. Uma coisa brilhante, philosophica até!

E, por se fallar de cães, a baroneza lembrou-se do Tommy, o galgo da condessa; perguntou por Tommy. Já o não via ha que tempos, esse bravo Tommy! A condessa nem queria que se fallasse no Tommy, coitado! Tinham-lhe nascido umas coisas nos ouvidos, um horror... Mandára-o para o Instituto, lá morrera.

— Está deliciosa esta galantine, disse D. Maria da Cunha, inclinando-se para Carlos.

— Deliciosa.

E a baroneza, do lado, declarou tambem a galantine uma perfeição. Com um olhar ao escudeiro,