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OS MAIAS

casa d’uma doente, exigir-lhe um certificado de hediondez!

— Mas que está ella cá a fazer?...

— Está á espera do marido que foi a negocios ao Brazil, e vem ahi... É uma gente muito distincta, e creio que muito rica... Vão-se brevemente embora, de resto, e eu pouco sei d’elles. As minhas visitas são de medico; tenho apenas conversado com ella sobre Paris, sobre Londres, sobre as suas impressões de Portugal...

A condessa bebia estas palavras, deliciosamente, dominada pelo bello olhar com que elle lh’as murmurava: e o seu pé apertava o de Carlos n’uma reconciliação apaixonada, com a força que desejaria pôr n’um abraço — se alli lh’o podesse dar.

A senhora d’escarlate, no emtanto, recomeçára a fallar da Russia. O que a assustava é que o paiz era tão caro, corriam-se tantos perigos por causa da dynamite, e uma constituição fraca devia soffrer muito com a neve nas ruas. E foi então que Carlos percebeu que ella era a esposa de Sousa Netto, e que se tratava d’um filho d’elles, filho unico, despachado segundo secretario para a legação de S. Petersburgo.

— O menino conhece-o? perguntou D. Maria ao ouvido de Carlos, por traz do leque. É um horror d’estupidez... Nem francez sabe! De resto não é peor que os outros... Que a quantidade de mônos, de semsaborões e de tolos que nos representam