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OS MAIAS

a cada momento o relogio, n’um receio de que Maria Eduarda tivesse sahido por aquelle lindo dia de verão, luminoso e sem calor. Com effeito á porta d’ella estava a carruagem da Companhia; e Carlos galgou as escadas, desesperado com a condessa, sobretudo comsigo mesmo, tão fraco, tão passivo, que assim se deixára retomar por aquelles braços exigentes, cada vez mais pesados, e já incapazes de o commover...

— A senhora chegou agora mesmo, disse-lhe o Domingos, que voltára da terra havia tres dias, e ainda não cessára de lhe sorrir.

Sentada no sofá, de chapéo, tirando as luvas, ella acolheu-o com uma dôce côr no rosto, e uma carinhosa reprehensão:

— Estive á espera mais de meia hora antes de sahir... É uma ingratidão! Imaginei que nos tinha abandonado!

— Porquê? Está peor, miss Sarah?

Ella olhou-o, risonhamente escandalisada. Ora, miss Sarah! Miss Sarah ia seguindo perfeitamente na sua convalescença... Mas agora já não eram as visitas de medico que se esperavam, eram as de amigo; e essa tinha-lhe faltado.

Carlos, sem responder, perturbado, voltou-se para Rosa, que folheava junto da mesa um livro novo d’estampas; e a ternura, a gratidão infinita do seu coração, que não ousava mostrar á mãe, pôl-a toda na longa caricia em que envolveu a filha.

— São historias que a mamã agora comprou,