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48 : OS VILHANCICOS :

dentemente havia motivo de sobejo para que o gôsto do povo fôsse lisongeado com a quebra de sentimentos duma mais elevada e pura emoção. E a linguagem dos pastores? vejam se não sôa aqui a música agreste das campinas largas do Alentejo ou das serranias verdejantes da Estrela! Se não se respira o cheiro acre do leite dos tarros da cortiça com desenhos caprichosos de primitivos! Se não se divisa nos arabescos contrafeitos dos modestos versos o tipo do pastor de numerosos rebanhos, alto, espadaúdo, sombrio e resignado:

1. Ou Gonçalo? Que será
Tanta grita que oiço, e oibes?
Que será? Disgue, que o medo
Já no estangamo me vole?
2. Pardelhas, Anton, num sei,
Que é isso que bai no monte,
Que tudo son corredelas,
Tudo vulha, e tudo bozes…
1. Se seron ladrões que bem
Roivar os nossos alforges?
1. Prasga a Deos que num me lebem
O jubom e o pelote.


Todos: Verbum caro factum est
Et habitavit in nobis


1. Que disguem, Gonçalo amigo,
Que disguem os Cantadores?
Que disguem? que num entendo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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