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Página:Os Vilhancicos.pdf/60

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56 : OS VILHANCICOS :

Pois que estamos na India, em Belem, Portugal,
Que isto faz amor,
Que isto amor faz,
Que vos hei-de querer
Que vos hei-de amar,
Que não posso mais.
Ei-lo vai, ei-lo vai,
Ora sus, andai.

Mas no Vilhancico, que damos a seguir, ainda se mostra com maior evidéncia a filaucia gongórica. Para ser cantado na Sé de Coimbra em 1692, tal se desentranhou o estro dum inspirado versista:

A Belem á meia noute,
A ver o Sol que madruga,
A quadrilha vai dos montes,
Vai da Côrte a patrulha.
*
Com alegria uns e outros
Vão de tropel e de chusma,
Os pandeiras repicando,
E ponteando as bandurrias.
*
Tanto que em Belem entrou
A sonora turba multa,
Poz-se o silencio de espreita,
A noite se poz de escuta.
*
Muitos donaires diziam,
Cantavam lindezas muitas,
Que o cantar muito esta noite,
Mais foi devoção que furia.
*
Tanto repica a guitarra,
Quando o adufe retumba,
E a soalha e castanheta
Jamais lhe mordia a pulga.