58 : OS VILHANCICOS :
Assim diz:
Não vos sei eu numerar
Suas sciencias, que fôra
Reduzir o imenso a cifras,
E cifrar um mar em conchas!
Algumas vezes no rebuscado dos conceitos há uma tal profundidade, que chega a ferir a nossa sensibilidade moral. Aquele amor extravasa do seu ideal de pureza. Há uma vaga de perfume mundano, sensual, pecaminoso.
Insensivelmente nos lembra aquele dulçuroso estilo em que se comprazia por vezes a musa duma soror Violante, duma Maria do Ceo ou duma Madalena da Gloria.
E surge-nos em visão macabra, como num capricho de Goya, o tropel das freiras mundanas, que o bom e virtuoso Bernardes nos pinta vivendo rodeadas de «laminas, oratórios, cortinas, sanefas, rodapés, tomados a trechos com rosas de maravalhas, banquinhas de damasco, franjadas de seda ou de oiro, pias de cristal, guarda-roupas de Holanda, caçoulas, espelhos, craveiros, mangericões, ou naturais ou contrafeitos, passarinhos, cachorrinhos de manga…, jarras, ramalhetes, perçolanas, brinquinhos de sangria, figuras de alabastro ou de gesso, perfumes, alambiques…»
Eis como se inaugurou o 1.º Noturno na