: OS VILHANCICOS : 77
Alli se achão Portugueses,
Que desde os confins de Europa
Vão ver os berços do dia
Lá nas Regioens da Aurora.
Tanto que em Belem entrárão,
Suppondo, que era Lisboa,
Entre se he, ou não he,
Elles desta sorte o provão.
Aquella he a Porta do Sol,
Diz hum, do Portal à Porta,
Là se vè a Boa vista
Nos olhos dessa Senhora.
Vès acolà o Paraiso,
Donde huns Anjos me namoraõ,
E antes a Porta da Cruz,
O Calvario daqui nota.
O Minino he o Bairro alto,
Bem que està na Rua nova,
Olha acolà São Joseph,
Annunciada, a Bem-posta.
O caminho do Presepio
He a calçada da Gloria,
Vès o Rocio tambem,
Que he daquella Aurora o aljofar.
Vès tambem o Boy fermoso,
Que està là dentro na choça,
As Pedras negras não vès
Em tantos Negros de Angola?
Não vès a Corte Real,
Donde estes Principes moraõ.
Là está o Forte levantado,
Inda que tão só agora.
Pois se aqui temos Belem,
Pois se aqui temos Lisboa,
Esta he logo a nossa Patria,
Que donde está Deos he a nossa.
A penas diz, quando logo
Toda a gente se alvorota,
Ferve o pandeiro, a bandurria,
Tambor, adufe, & viola.
E caminhando ao Portal
Com algazára estrondosa,
Aos Ventos, Montes, & Valles
Isto dizem, & isto entoão.