Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/123

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tanto assim é que, ao lado do cabo em que a sua phantasia roçou pela verdade, poz um estreito que não existia, que, depois de ter imaginado a Africa torneavel, continúa a dizer que não sabe-se se poderá tornear, e que, ao passo que fundamenta nas descobertas portuguezas a sua descripção da Africa Occidental, nada diz de quaesquer viagens que tivessem podido esclarecel-o ácerca da fórma que podia dar á Africa meridional!

Nada ha mais estranho do que o que succede com os Portuguezes n’esta questão dos descobrimentos. Quando elles os fazem, toda a Europa os applaude, affluem a Portugal aventureiros que querem tomar parte nas nossas expedições, e navegar nas nossas caravelas. Ninguem se lembra de dizer que já sulcaram esses mares, ou que já foram a essas terras. Os Normandos, longe de fallarem em pretenções suas, aconselham a quem queira fazer expedições para esses lados que tome pilotos em Portugal, porque aqui os encontra sabendo bem aquellas derrotas. Os papas concedem-nos o dominio d’essas terras baseado nos direitos de primeiro occupante, os reis de França e de Hespanha, tão ciosos das suas pretenções, reconhecem esse direito sem a minima objecção e até castigam os seus subditos que tentam violal-o, os navegadores de toda a Europa, os taes que nos tinham precedido, o que fazem é tentar surrateiramente seguir-nos e apanhar aos nossos