Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/13

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estranho de fé e de poesia a cathedral gothica, e recortavam-se em mil caprichos phantasticos as torrinhas e as innumeraveis agulhas dos paços municipaes, em que a burguezia ostentava, em frente da realeza da espada, a realeza do trabalho. Desappareciam debaixo dos codices monachaes as obras primas dos tragicos e as epopéas gregas, mas a alma complexa da tumultuosa meia edade palpitava nos tercetos de Dante. E, quando a invasão musulmana derrubava no Oriente o ultimo baluarte da antiguidade erudita, quando a Grecia via os seus marmores despedaçados pelas ferraduras dos cavallos do deserto, e o Egypto as suas esphinges sepultadas nas nuvens de areia que as hordas arabes levantavam, no Occidente arrancava Colombo á esphinge do Oceano o seu segredo secular, fixava para sempre Guttemberg os vestigios do pensamento humano, e ás portas orientaes, vindas de remoto occaso, assomavam as prôas das caravelas portuguezas, que acabavam de sulcar, vanguarda da civilisação, as ondas do mar Tenebroso illuminadas pela sua audacia.

Estas festas devem ser porém acima de tudo as festas da justiça, porque n’ellas devem emmudecer perante a grande causa da humanidade as mesquinhas invejas, as pequeninas rivalidades nacionaes, com que por muitas vezes se procura deslustrar a memoria d’aquelles, que foram os agentes providenciaes