Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/132

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podem entrar.[1] Basta vermos que os mappas em que se baseia a pretenção, param no Bojador, como no Bojador pararam os navegantes a quem depois se quiz attribuir a gloria de o ter transposto.

Em 1441 descobria Nuno Tristão o cabo Branco, em 1443 os ilheus de Arguim, em 1445 acabava-se de descobrir a costa do Sahará e entrava-se na costa da Senegambia, e n’este meio tempo entravam já em Portugal com abundancia os escravos africanos.

Nodoa é esta com que se pretende manchar a gloria dos nossos descobrimentos, como se n’essa epocha em que os proprios brancos ainda tinham, pode dizer-se, roxos os pulsos dos grilhões com que lh’os algemára a servidão da gleba, n’essa epocha em que tinham escravos os proprios mosteiros e as egrejas, se podesse ter ácerca da liberdade do homem as idéas largas que, só uns poucos de seculos depois, e a muito custo, se implantaram na legislação dos paizes mais cultos. E é curioso que sabios escriptores accusem o infante de ter sido o responsavel pela escravatura negra, como se não fosse tão facil ás virtuosas nações, cujo credito elles defendem,

  1. La plage de sable, qui, comme on l’a dit, forme presque entiérement l’embouchure du Rio d’Ouro ne permet pas de penser que ce lieu puisse recevoir des bâtiments du plus faible tirant d’eau, il ne peut probablement admettre que des canots. Roussin Mémoire sur la navigation aux côtes occidentales de l’Afrique, pag. 96.