Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/175

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volta um navio do occidente que não se trate logo de saber se traz comsigo a noticia de um novo descobrimento. Por uma coincidencia singular quasi ao mesmo tempo apparece nos Açores um homem intelligente e sabio, Martim de Behaim, que se sente tambem arrastado pela invencivel convicção de que ha terras para o lado do occidente, e que é por alli o verdadeiro caminho da India. Esse homem tem na sua vida singulares relações com a de Colombo. Este casou com a filha do donatario de Porto-Santo, aquelle com a do donatario do Fayal; um foi á Guiné nos navios portuguezes, o outro foi em navios portuguezes até ao Zaire. Mas um é allemão, um diplomata, um burguez, um discipulo correcto e regular de um dos maiores sabios da Europa, Regiomontanus; o outro é um italiano, um sonhador, um irregular, um estudante incompleto. O primeiro encontra facil accesso junto aos principes e nas universidades, o outro não acha muitas vezes nos altos logares senão repulsas e desdens; mas este é um perseverante, um ardente, um allucinado, o seu convencimento é uma paixão que o absorve, que o devora. O que actua n’elle não é tanto o raciocinio como a visão. A alma do infante D. Henrique parece renascer n’elle. Passou de Sagres para o Porto-Santo o vulto do asceta. Secularisou-se apenas; já não é o monge militar, é o cavalleiro andante, mais affectivo, mais dulcificado pelo seu conhecimento do amor, mas tendo a mesma