Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/209

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durava immenso tempo, e tinha difficuldades e perigos sem numero, e a Asia, que Colombo encontrára, estava tão perto! Note-se bem que não havia a esse respeito a minima duvida. Colombo chegára á Asia, chegára ás Indias, não á India riquissima a que aportára Vasco da Gama, não ao Cathay e ao Cipango fabulosamente opulentos de Marco Polo, mas a terras selvagens que não podiam ser senão as sentinellas avançadas do continente maravilhoso e dos archipelagos opulentos. Era ainda para o occidente que se encontrava Cipango, era para o sul? A opinião dos sabios tendia para esta ultima solução, e Pedro Martyr d’Anghiera, o celebre amigo de Colombo, exclamava indignado com uma expedição hespanhola á Florida:

«Para o sul! para o sul! Para que precisamos nós de producções semelhantes ás producções vulgares do Meio-Dia da Europa?»[1] O que deduzimos d’aqui? Deduzimos que, tendo louvavelmente D. Manuel seguido á risca a politica de D. João II, a descoberta do Brazil por Pedro Alvares Cabral foi resultado não do acaso, mas do intento firme e propositado de procurar nos mares occidentaes o que Colombo ainda não encontrára claramente — outro caminho para a India.

Allega-se contra isso o silencio absoluto do governo

  1. Pedro Martyr d’Anghiers, Oceanicas, dec. VIII, cap. 10.