Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/217

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Confronte-se isto tudo, note-se que temos prova authentica de que em 1498, do anno immediato áquelle em que Vasco da Gama sahira de Portugal, foi Duarte Pacheco incumbido de ir descobrir terras a sudoeste, que o governo hespanhol tanto desconfia dos intentos de Portugal que espreita as nossas costas e tem navios promptos para seguir qualquer expedição portugueza que para o occidente se dirija, que D. Manuel, para desfazer suspeitas, trata logo de declarar que a terra descoberta a utilidade que tem é servir de porto de escala para a navegação da India, que trata tambem de disfarçar a distancia a que o Brasil fica de Cabo Verde, porque, tendo-lhe dito Pero Vaz de Caminha na sua carta que a nova terra ficava a 660 ou 670 leguas da ilha de S. Nicolau no archipelago de Cabo Verde, para os reis catholicos diz elle que fica a 400 leguas não da ilha mas do Cabo Verde que bem se pode suppor que seja o da costa africana,[1] de fórma

  1. «Sahindo do dito Cabo Verde, esta terra jaz entre Oeste e Sudoeste, ventos principaes, e dista do dito Cabo Verde quatrocentas leguas». Carta de Portugal enviada ao rei D. Manuel ácerca da viagem e successo da India, traduzida da versão italiana pelo sr. Prospero Peragallo, e por este publicado com o texto italiano e annotado nas Memorias da commissão portugueza do centenario de Colombo. O trecho que citamos vem a pag. 9 in fine. Como se vê, estando a 400 leguas de distancia não a oeste, mas a oes-sudoeste a distancia do meridiano de Cabo Verde ao meridiano de Vera-Cruz não podia ser superior a 370 leguas. Pero Vaz de Caminha disséra-lhe: «Topamos algūus synaes de terra seendo da dita ilha (S. Nicolau de Cabo-Verde) segundo os pilotos diziam obra de VIᵉ Lx ou LXX legoas ᵉlc (670 ou 701 leguas)». Esta carta de Pero Vaz Caminha tem sido muitas vezes publicada. Fazemos o nosso extracto da memoria do sr. Aragão, onde vem nos documentos, pag. 66.