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franceza se tantos argumentos fortissimos não houvesse para lhe demonstrar a inanidade.[1] É o que succede tambem com os detractores de Colombo. Não vêem immediatamente os que dizem que antes de Colombo chegaram a terras americanas João Vaz Côrte Real, ou o francez Jean Cousin, que, se algum d’elles tivesse levado a termo tão importante expedição, bastava isso para ficar logo resolvido o grande problema do fim do seculo XV que trazia preoccupados sabios e estudiosos, deante do qual tanto hesitou D. João II, que inflammou em França o animo do cardeal Pedro d’Ailly, em Italia o do famoso Toscanelli! Com que jubilo se saudaria essa resolução do grande problema!
- ↑ Este erro gravissimo deu origem a todas as falsas reivindicações francezas, apezar de ter sido completamente desfeito no proprio seculo XV. Chamava-se primeiro Gianya, Gineva ou Gynoya ou Guiné á terra proxima de Marrocos, que se suppunha habitada pelos negros, e com a qual se fazia commercio. Era esta a Guiné que ficava a doze leguas das Canarias, «do outro lado da ilha de Fuerteventura», como dizem ainda os capellães de Bethencourt. Azurara, quando chama Guiné á costa do Senegal descoberta pelos Portuguezes, desculpa-se de ter já chamado assim, para empregar a linguagem commum, a outro paiz onde tinham estado primeiro os Portuguezes, e que era d’este muito distante. Essa primeira Guiné, ou Guiné antiga, reclamou-lhe o senhorio o rei de Castella, D. João II, que escrevendo de Valladolid a D. Affonso V de Portugal, a 19 de abril de 1454, dizia-lhe: «Otrosi, rey muy caro, e muy amado sobrino, vos notificamos que, viniendo ciertas caravellas de ciertos nuestros subditos e naturales vecinos de las nuestras ciudades de Sevilla y Cadiz con sus mercaderias de la tierra que llaman Guinea, que es de nuestra conquista, e llegando cerca de la nuestra ciudad de Cadiz á una linea estando en nuestro señorio e jurisdicion, recudieron contra ellos Pallencio, vuestro capitan etc.»
Esta Guiné, cuja conquista o rei de Castella dizia pertencer-lhe, fazia parte do reino da Africa, sobre a qual os reis de Castella diziam ter direito, herdado dos Godos. Quando o nome de Guiné ficou pertencendo á região que hoje o tem, quer dizer a que está para além do Cabo Bojador, os reis de Portugal tomaram sem contestação nem cedencia de Castella o titulo de senhores de Guiné, baseado no direito de primeiros descobridores que ninguem lhes impugnou. E a Guiné antiga perdeu essa denominação. Ahi está o segredo da confusão que deu origem ás pretenções tão absurdas dos Normandos e dos Catalães.