Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/33

Wikisource, a biblioteca livre
27

os Genovezes as tivessem feito, para elles iria a gloria. Não esperou a Europa que as caravelas do infante D. Henrique fossem muito adeante para que affluissem a Portugal estrangeiros, nem o governo portuguez esperou por isso para reclamar do Papa o reconhecimento do seu direito. Descobrem-se as Canarias? Logo apparecem Portuguezes, Francezes e Hespanhoes a reclamar a sua posse. Descobriam-se os Açores e a Madeira e ninguem com isso se importava. Não, o Homero da grande epopéa maritima foi o infante D. Henrique. Antes dos grandes epicos apparecem os cantos vagos e anonymos, em que se desata a inspiração da musa popular, em que se modulam as aspirações e os enthusiasmos do povo. Chega emfim o grande cantor, o epico inspirado, em cuja fronte Deus accendeu a scentelha do genio, e que escuta pensativo esses echos da guerra, essas cantilenas sublimes. Incende-se-lhe a imaginação, concentra na sua alma as palpitações da alma nacional, e dos seus labios brota emfim a epopéa victoriosa em que tudo se condensa, e encontra a sua expressão definitiva, que se fixa para sempre na memoria do povo e na memoria da humanidade. As caravelas que iam ainda, silenciosas e timidas, aventurar-se ao mar mysterioso, e que ou voltavam sem ter rompido o mysterio, ou no mysterio das vagas envolviam os seus cadaveres fluctuantes, eram os bardos isolados que afinavam pelo rugido