Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/48

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um pequeno povo debruçado sobre os mysterios do Oceano resolveu sondal-os e quebrar as barreiras que separavam do mundo conhecido essa região enigmatica, transpôr o que lhe diziam que era inultrapassavel, chegar ás regiões defezas, arrombar as portas fechadas pela triplice chave da sciencia, da fé e da lenda, e o que dezenas de seculos não tinham conseguido conseguiu-o meio seculo apenas. Então a sciencia não parou, não retrocedeu, não se contradisse, não se perdeu em conjecturas. Cada facto que se adquiria era uma confirmação de uma theoria contestada, ou a revelação de uma theoria nova. A fé cedeu deante da evidencia. Quando os marinheiros portuguezes entraram na zona torrida, cahiu por terra a idéa consagrada da impossibilidade d’alli se viver, quando entraram na zona temperada do sul, desappareceu, substituida pela real, a terra antichthona, e a Egreja teve de acceitar os antipodas; quando Colombo transpoz o Oceano occidental, a idéa da immensidade dos mares perdeu-se para sempre; quando Fernão de Magalhães passou do Atlantico ao Pacifico, e quando o seu ultimo navio veiu fundear n’um porto da peninsula hispanica depois de ter dado volta completa ao mundo, não teve mais contradictores nem descrentes a theoria da esphericidade da terra. O quadrado dos Santos Padres cahiu desfeito pelas cargas repetidas d’esses cavalleiros do Oceano.