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o norte no Caucaso e na Scythia collocava Raban Mauro os gigantes, os gryphos e os dragões que zelosamente guardavam o oiro e as pedras preciosas[1]. Para o sul, segundo o pensar de Vicente de Beauvais, um dos grandes geographos da edade média, havia dragões logo para deante de Marrocos[2]. João de Hase collocou na India os pygmeus que apenas viviam 12 annos, e rochedos magneticos que attrahiam os navios para o fundo do mar[3]. As obras de Plinio eram fonte inexgotavel de extraordinarias divagações. Cynocephalos e acephalos, cyclopes e arimaspes, antipodas que não tinham dedos, hippopodas que tinham pés de cavallo, e juntamente com elles os gryphos pullulavam n’essas regiões mysteriosas, como aviso supremo que a Providencia dava aos que pretendiam penetrar nas regiões em que o sol impera e que o sol devasta.

No famoso mappa da cathedral de Hereford encontra-se uma das collecções mais completas d’essa estranha producção zoologica e anthropologica da sciencia d’esse tempo. E note-se que essa sciencia não a produzia a edade média, colhera-a nos livros da erudita antiguidade. Era lá que ella encontrava os troglodytas que comiam serpentes, eram Mela e Plinio e Vopisco que apresentavam os Blemmyos que

  1. De Universo, liv. XII, cap. IV, pag. 172.
  2. Speculum naturale, part. 1.ª, liv. IV, cap. XVII.
  3. De mirabilibus Indiæ.