Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/73

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do sol nas regiões tropicaes, como se não admittiria a existencia dos Himantopodas e dos outros povos em cujo organismo a providente natureza desenvolvera sobretudo os orgãos que tivessem por fim preserval-os do sol?

Assim as affirmações positivas e serias da sciencia eram todas contrarias á navegação para a zona torrida. Tão estranho pareceria a todos tentar-se uma viagem n’essa direcção, como hoje nos pareceria a nós tentar uma viagem em direcção á lua. Azurara, se escrevesse a sua Chronica da Guiné antes dos descobrimentos portuguezes serem conhecidos lá fóra, passaria por auctor de um outro Amadis de Gaula, e ninguem estranharia que a patria de Lobeira produzisse outro escriptor não menos phantasioso, ainda que d’esta vez o conto excedia demasiadamente todos os limites da verosimilhança. Mesmo n’essa epocha de credulidade o livro de Azurara faria sorrir os leitores, se a realidade dos factos não fosse já conhecida de todos, como hoje nos fazem sorrir os romances de Julio Verne.

Mas não apparece agora a todos evidente e claro o absurdo de se suppor que por alguem fomos precedidos nos descobrimentos africanos? Seria necessario suppor, para que os normandos tivessem ido á zona torrida, e creado estabelecimentos na costa e desamparado depois essa navegação sem que ninguem tivesse ligado a essas expedições a minima