Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/83

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n’uma alta montanha, outros n’uma ilha. E em torno d’esta idéa dogmatica ferviam as lendas.

Do Paraizo, dizia-se, saíam quatro grandes rios: o Nilo, o Ganges, o Tigre e o Euphrates. Era necessario, porém, explicar-se como é que estes rios appareciam tão longe da sua celeste origem, e sobretudo como é que o Nilo apparecia na Africa, tendo nascido na Asia. A explicação era a da corrente subterranea, e submarina tambem com relação ao Nilo, quando a supposição de um mar mediterraneo, que trazia comsigo a união da Asia com a Africa, não tornava dispensavel esta conjectura[1].

Esta opinião religiosa perdurou largo tempo no espirito dos homens ainda depois das grandes descobertas.

  1. Cosmas, Santo Isidoro de Sevilha, Anonymo de Ravenna, Raban Mauro, Honoré d’Autun, Hugo de Saint-Victor, Vicente de Beauvais, Brunetto Latini, Joinville. A noticia do famoso chronista de S. Luiz a respeito do Nilo, transcripta pelo visconde de Santarem no Essai, etc., tom. I, pag. 112, nota 3, não deixa de ser curiosa: «Ici il convient de parler du fleuve qui passe par le pais d’Egypte, et vient du Paradis Terrestre... Quant celui fleuve entre en Egypte il y a gens tous experts et accoustumez, comme vous diriez les pêcheurs des rivières de ce pays-cy qui au soir jettent leurs reyz au fleuve et es rivières; et au matin souvent y trouvent et prennent les espiceries qu’on veut en ces parties de par de ça (dans l’Europe) bien chierement et au pois, comme canelle, gingembre, rubarbe, girofle, lignum, aloes et plusieurs bonnes chouses. Et dit — on pais que ces chouses — lá viennent du Paradis terrestre et que le vent les abat des bonnes arbres, qui sont en Paradis terrestre.»