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o aspero rochedo batido pelas vagas, onde Judas é consumido pelo eterno remorso; e emfim a terra promettida aos eleitos, a terra dos bemaventurados.

S. Patricio tambem percorre as solidões do Atlantico. Esse vae, segundo a lenda, quando a quaresma começa, para o seu purgatorio, n’uma ilha de que ninguem se pode approximar, onde ha uma caverna que os maus espiritos habitam, e onde se abrem duas estradas subterraneas, que vão ter uma ao Inferno, outra ao Paraizo. Esta ilha mysteriosa do Purgatorio de S. Patricio, como a ilha abençoada de S. Brandão, é um dos sonhos mais persistentes da edade média, e uma e outra lá apparecem nos mappas medievaes, nos sitios mais diversos, ás vezes applicando-se a ilhas verdadeiras, como acontece com o Purgatorio de S. Patricio, que alguns cartographos collocam na Islandia.

A imaginação celtica é a mais fecunda n’esta creação de terras phantasticas, e não podia deixar de ser assim, não só porque os povos d’essa raça são essencialmente imaginativos e sonhadores, como tambem porque n’essa Irlanda, collocada na extremidade occidental da Europa, a tão pouca distancia da America, aonde tantas vezes deviam chegar, como chegavam aos nossos Açores e á nossa Madeira, plantas e cadaveres de homens de desconhecido aspecto, não podia deixar de pullular a cada instante na alma do povo o pensamento da existencia de ilhas mysteriosas