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para esse lado, como muitas vezes tambem, quando um pescador mais audacioso se aventurava ao mar alto, quando o vento de leste lhe enfunava as velas, e o mar lhe parecia cantar no seu doce murmurio as suas maravilhosas lendas, elle seguiria caminho do Occidente, durante dias e dias, até que a fome o salteasse, ou até que o continuado panorama das vagas a seguirem-se ás vagas, sem fim, sem termo, fechando o horizonte, os desanimasse afinal[1]. Mas tambem na peninsula hispanica lendas semelhantes se formavam e pelas mesmas causas. Tambem aqui em Portugal sobretudo e no Algarve principalmente os pescadores, ao largarem a costa, sentiriam a tentação de penetrar nos mysterios do Oceano, e aqui tambem á volta, em noites de luar nas esfolhadas, ou no inverno ao lado da chaminé, fallariam, como se as tivessem visto, em ilhas extranhas, na das Sete Cidades, por exemplo, onde se tinham refugiado, quando os Mouros vieram á peninsula, sete bispos christãos com o povo das suas dioceses, proscriptos agora e encantados como as meigas irlandezas exiladas dos navegadores de Iona. E todas estas ilhas phantasticas, Antilia e Sete Cidades, ilha de

  1. Todas estas lendas irlandezas, em abreviada exposição, se podem ver no excellente livro de mr. de Villemarqué La Légende Celtique, especialmente na Introducção e na Lenda de S. Patricio.